Reflexões sobre Viver de Renda

By Redação

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O Pecúlio da Tranquilidade: Reflexões sobre Viver de Renda

De tempos em tempos, surge na alma inquieta do homem a dúvida que o perturba nas noites insones e nos dias de cálculos aflitivos: quanto é necessário possuir para que se possa gozar dos dias sem as agruras do labor? A fortuna, essa entidade volátil, parece sorrir a poucos e escapar a muitos, mas, ainda assim, há aqueles que buscam aprisioná-la dentro de números e estratégias.

A Arte de Estimar o Pecúlio

Convém, antes de qualquer elucubração, definir o que se entende por viver de renda. Seria a mera subsistência, sem angústias, ou um fausto desmedido, onde o champanhe e a seda se tornam rotina? Seja qual for o desiderato, há que se medir os gastos anuais e multiplicá-los por um coeficiente de segurança, esse dogma da precaução.

Para tal, recomenda-se a prudente aritmética de multiplicar as despesas anuais por vinte e cinco ou trinta e três vezes, fórmula que, ainda que não tenha sido sussurrada pelas musas, é ensinada pelos arautos da finança. Com isso, pretende-se extrair um rendimento passivo que permita a inércia produtiva sem a corrosão do capital.

O Lento Desfiar das Despesas

Enumerar as despesas não é tarefa simples, pois há de se considerar não apenas o óbvio — teto, mesa e locomoção — mas também aqueles pequenos deleites que tornam a existência menos penosa. Há de se pensar na literatura, na música e até mesmo nas tertúlias que exigem uma boa garrafa de vinho. Assim, uma planilha meticulosa é um aliado imprescindível.

As cifras obtidas, todavia, devem ser vistas com desconfiança. A inflação, esse ladrão de bolsos desavisados, corrói, ano após ano, o poder de compra, de modo que o que hoje parece suficiente pode tornar-se pífio em uma década. Assim, convém adotar margens de segurança e um olhar arguto para os rumos da economia.

O Resguardo contra o Tempo

Não basta amealhar riquezas; há que se protegê-las contra os reveses do destino. Para tanto, convém lançar mão de uma carteira de investimentos sabiamente diversificada. Os títulos da dívida pública oferecem um porto seguro, mas de ganhos módicos. As ações, por sua vez, têm o ímpeto da juventude e a volubilidade de um amor de verão: podem elevar-se às alturas ou afundar-se em abismos inesperados.

O investidor prudente distribuirá sua fortuna entre distintas modalidades, assegurando-se de que, se um ramo secar, outro florescerá. Fundos imobiliários, empresas de dividendos, até mesmo um punhado de ativos internacionais — cada qual tem sua serventia no mosaico da prosperidade.

Da Diversificação e da Prudência

Além das aplicações convencionais, há aqueles que encontram no imóvel alugado uma fonte perene de proventos. Outros preferem direitos autorais, patentes e mesmo pequenos negócios que operam à distância de uma supervisão atenta. O segredo não está na rigidez, mas na adaptação contínua às circunstâncias.

Importa, pois, que o aspirante à vida de renda não se engane: há trabalho a ser feito. Se não mais o suor do rosto nas labutas diárias, ao menos o labor das escolhas sensatas, das análises periódicas e da constante vigilância contra a erosão inflacionária.

Viver de Renda e o planejamento

O sonho de uma existência desobrigada das agruras do sustento é, ao fim e ao cabo, acessível àqueles que se dispõem a tratá-lo não como devaneio, mas como projeto. E, como todo projeto, requer método, disciplina e, não raro, paciência. Quem sabe, um dia, ao balanço preguiçoso de uma rede ou ao conforto do cadeirão em uma biblioteca bem fornida, se possa dizer, sem remorsos: trabalhei para não mais trabalhar. E eis que aqui estou.