A Virada na Ciência da Psicologia: Do Passado ao Futuro do “Eu”. Enxergar seu futuro eu.
Antes, a maior parte da história da psicologia centrou-se nos traumas e frustrações do passado – como se fôssemos meramente produtos passados de condicionamentos dolorosos.
No entanto, dois grandes polos do pensamento contemporâneo – representados por Martin Seligman e Daniel Gilbert – vêm empreendendo um realinhamento profundo: um da negatividade ao florescimento humano, outro da fixidez presente à dinâmica do “eu” no tempo.
1. Um olhou para trás – Seligman e a virada do “menos zero” ao “mais cinco”
Primeiramente, cabe destacar que, por décadas, a psicologia se ocupou essencialmente do sofrimento: ansiedade, depressão, obsessões, neuroses… Como observou Seligman ao assumir a presidência da APA em 1998, bastava tirar alguém do “menos cinco” e levá-lo ao “zero” (um estado de normalidade).
Em seguida, questionou-se: não seria possível avançar rumo ao “mais cinco”? Ou seja, estimular condições que favorecessem o pleno florescimento humano? Essa inquietação originou a disciplina conhecida hoje como “psicologia positiva” – um ramo que investiga o íntimo das emoções, do engajamento, do sentido e da realização (modelo PERMA) .
Além disso, sua trajetória pessoal reflete essa alternância: de pesquisas sobre helplessness e seus hábitos mórbidos, Seligman migrou à pesquisa sobre otimismo e resiliência, desenvolvendo intervenções com potencial transformador .
2. O PERMA — Um novo paradigma para o florescimento humano
Posteriormente, ele consolidou a tese de que a saúde mental não se restringe à ausência de patologia, mas sim ao cultivo dessas cinco dimensões:
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Positive Emotion (emoções positivas);
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Engagement (engajamento intenso, o famoso “flow”);
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Relationships (relações significativas);
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Meaning (sentido maior que conecta o indivíduo ao mundo);
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Accomplishment (realizações que trazem satisfação).
Desse modo, ferramentas como diário de gratidão, atos aleatórios de gentileza e a “visita de gratidão” passaram a ser amplamente estudadas e aplicadas, demonstrando impactos positivos sustentados no bem‑estar .
3. Mas será que somos fixos no tempo? – o “End of History Illusion” de Daniel Gilbert
Enquanto isso, do outro lado da ponte temporal, Daniel Gilbert, de Harvard, vem estudando o quanto o “nós-mesmos” muda com o passar dos anos – mais do que imaginamos. Em sua palestra na TED, ele explicita o fenômeno que chama de “ilusão de fim da história”: a crença de que atingimos um tipo de estabilidade, de que somos o ser que sempre seremos .
Em seguida, seus estudos com mais de 19.000 pessoas entre 18 e 68 anos mostraram que, embora o ritmo de mudança realmente diminua com a idade, sempre subestimamos o quanto mudaremos na próxima década .
Além disso, essa distorção não se restringe à personalidade: valores, preferências, amizades e gostos também mudam – e muito mais do que antevemos .
4. Por que há resistência à mudança futura?
Contudo, o que explica essa cegueira temporal? Gilbert aponta que lembramos com facilidade quem fomos, mas somos incapazes de imaginar quem seremos – e confundimos essa dificuldade com impossibilidade .
Consequentemente, tomamos decisões baseadas nesse “eu fixo”. Por exemplo, compramos ingressos caros para um show futuro, acreditando que nossa preferência atual vai perdurar – mas quando a nova versão de nós chega, muitas vezes já não ressoa com essa escolha .
5. Conectando o “eu presente” ao “eu futuro” – lições para decisões conscientes
Por isso, muitos estudos sugerem: quanto mais conectados nos sentimos ao nosso “eu futuro”, mais propensos estamos a tomar decisões prudentes: poupar, escolher um estilo de vida saudável, planejar. Intervenções eficazes incluem:
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Realidade aumentada: ver-se envelhecido em VR reforça o vínculo com o futuro e incentiva ações positivas.
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Escrita ou visualização vívida: imaginar-se como a pessoa de 10 ou 30 anos à frente intensifica a importância de escolhas hoje .
Outro ponto: pesquisar histórico de outras pessoas semelhantes também ajuda, pois saber como outras evoluíram pode atualizar nossos prognósticos pessoais .
6. Diálogo entre as abordagens: passado, presente e futuro
De fato, compartilhando o legado da psicologia tradicional, Seligman valoriza a compreensão do passado – uma história de resignação, otimismo e resgate da capacidade humana. Por outro lado, o olhar futuro de Gilbert complementa essa visão: não basta nos desenvolver como somos hoje; precisamos também desconstruir essa crença de estagnação.
Ademais, integrar o legado histórico (a base que moldou quem somos), o fortalecimento presente (florescendo via positivo) e a consciência do futuro (planejamento com humildade temporal) produz uma abordagem holística – aderente a uma psicologia que contempla o ser humano em múltiplos tempos.
Conclusão
Pois bem, a psicologia vem se reinventando:
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Seligman nos ensinou que o objetivo não é apenas “não adoecer” — mas florescer, construir emoções positivas, conexões fortes, propósito e realização;
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Gilbert nos revela que somos mais mutáveis do que imaginamos e que nossa arrogância temporal nos impede de prever e planejar o futuro adequadamente.
Portanto, a verdadeira virada (o shift in the science) requer que:
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Reconheçamos nossas raízes, mas não fiquemos presos a elas;
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Cultivemos um presente vibrante, fortalecido por emoção, sentido, engajamento e laços humanos;
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E, sobretudo, não esqueçamos que ainda não somos quem seremos — que somos obras inacabadas.
Chamado à Ação
Assim, convido você a refletir: por meio de quais práticas você pode incutir maior harmonia entre seu “eu presente” e seu “eu futuro”? Talvez uma carta para si mesmo daqui a dez anos, um exercício de gratidão diário ou uma simples conversa com alguém mais velho que você admire.
Todavia, lembre-se: somos fluxo, evolução; e abraçar isso — como propõem Seligman e Gilbert — é acolher a psicologia na sua mais pura e radical expressão.
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