Dialética da Felicidade, por Pedro Demo

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Em Dialética da Felicidade, o Dr Pedro Demo faz profundas reflexões: está relacionada à renúncia? Há uma tendência alimentada por perspectivas orientais que valorizam extremamente a renúncia como proposta fundamental para ser feliz. Parece que as pessoas felizes são as que sabem renunciar geralmente ao material, ao empírico, ao imediato, ao prazer.

A Dialética da Felicidade: Uma Reflexão Profunda

A felicidade é frequentemente associada à satisfação das necessidades materiais, uma perspectiva que encontra suas raízes nas teorias econômicas.

No entanto, conforme argumenta o professor e pós-doutor Pedro Demo, essa abordagem não é suficiente.

Assim, a felicidade, diz ele, não pode ser simplesmente reduzida ao consumo ou à acumulação de bens, uma vez que a satisfação material não está estatisticamente correlacionada com a verdadeira produção da felicidade.

Pois, como já demonstrado por estudos no campo da psicologia positiva, a felicidade exige horizontes mais amplos e complexos.

O Limite do Método Científico

Inicialmente, cabe questionar: até que ponto o método científico, com sua abordagem linear, empírica e mensurável, pode estudar algo tão subjetivo quanto a felicidade?

Desse modo, é inegável que o método científico nos proporcionou imensas conquistas tecnológicas e avanços em diversas áreas.

No entanto, ele se depara com limitações quando aplicado a fenômenos internos e pessoais, como a felicidade. A subjetividade, elemento central da felicidade, é difícil de mensurar ou quantificar, escapando às rígidas definições do empirismo.

Pesquisas como as de Ed Diener, um dos maiores nomes no estudo do bem-estar subjetivo, reforçam essa limitação.

Segundo Diener, o bem-estar subjetivo engloba tanto a satisfação com a vida quanto as emoções positivas e negativas que experimentamos. Esse “estar” ou “ser” feliz não pode ser plenamente capturado por números ou gráficos, pois envolve processos emocionais e cognitivos profundamente individuais.

A Subjetividade da Felicidade

Consequentemente, a subjetividade torna-se um elemento chave na análise da felicidade.

Nesse sentido, a distinção entre o “ser feliz” e o “estar feliz”, proposta por Pedro Demo, é fundamental para compreender essa complexidade.

Então, o “estar feliz” refere-se a momentos temporários de intensa satisfação, como a vitória em um campeonato, o reencontro com um amigo querido ou a realização de um sonho.

Mas, esses momentos, embora significativos, são efêmeros e limitados à experiência em si.

Por outro lado, o “ser feliz” está relacionado a uma dimensão mais profunda e duradoura.

Segundo Demo, esse estado envolve uma sabedoria de vida, uma capacidade de enfrentar os desafios cotidianos com serenidade e de relevar os aspectos negativos, mantendo a balança emocional sempre mais positiva.

Aqui, o indivíduo adota uma perspectiva mais ampla, onde a felicidade é vista como um processo constante de construção e reflexão, em vez de ser definida apenas por momentos isolados.

Felicidade e Neurociência: Novas Descobertas

De fato, estudos recentes no campo da neurociência reforçam essa distinção entre momentos de felicidade e um estado mais duradouro de bem-estar.

O neurocientista Richard Davidson, por exemplo, em seus estudos sobre emoções e cérebro, argumenta que a felicidade pode ser cultivada por meio de práticas que promovam o autocontrole emocional e a empatia, como a meditação.

Ou seja, ele defende que, embora possamos experimentar picos de felicidade momentânea, a verdadeira felicidade, ou o “ser feliz”, está mais associada à forma como reagimos aos eventos da vida, em vez dos eventos em si.

Essa visão é corroborada por estudos de longo prazo que investigam os efeitos da meditação e da atenção plena sobre o bem-estar emocional.

Essas práticas, que fortalecem regiões cerebrais associadas à empatia e ao autocontrole, ajudam a construir uma felicidade mais duradoura, independentemente das circunstâncias externas.

A Dialética da Felicidade

Assim, o conceito de felicidade que emerge da obra de Pedro Demo é dialético.

De um lado, temos o “estar feliz”, efêmero e momentâneo; de outro, o “ser feliz”, um estado duradouro que exige esforço, reflexão e, acima de tudo, sabedoria.

Essa dualidade reflete a própria complexidade da vida humana, onde momentos de alegria intensa coexistem com períodos de desafios e adversidades.

Portanto, a verdadeira felicidade, então, não é a ausência de problemas, mas a capacidade de lidar com eles de forma equilibrada.

Nessa perspectiva, vale destacar o conceito de resiliência, que se tornou central nas pesquisas sobre bem-estar.

Segundo a psicóloga Sonja Lyubomirsky, autora do livro “The How of Happiness”, pessoas felizes não são aquelas que não enfrentam dificuldades, mas sim aquelas que têm a habilidade de se recuperar rapidamente dos desafios.

Essa capacidade de resiliência está profundamente ligada ao “ser feliz”, pois envolve uma postura ativa de enfrentamento e superação.

A Busca pela Sabedoria de Ser Feliz

Por fim, a felicidade, como bem argumenta Pedro Demo em sua obra “Dialética da Felicidade”, não pode ser compreendida apenas a partir de uma perspectiva unidimensional.

Exige uma abordagem que considere tanto os momentos efêmeros de alegria quanto o cultivo de uma sabedoria de vida que permite ao indivíduo manter uma visão positiva, mesmo diante dos desafios.

Portanto, a felicidade é um processo, uma construção contínua, que vai além da simples satisfação material.

Como bem indicam os estudos científicos contemporâneos, ela está relacionada à maneira como cada um de nós lida com as emoções, com as adversidades e com os prazeres da vida.

Ser feliz, afinal, é uma arte que se aprende e que exige uma constante busca por equilíbrio e sabedoria.

Assim, fica o convite para refletirmos sobre nossa própria jornada rumo à felicidade, com a consciência de que ela não se encontra apenas nos momentos de alegria, mas também na maneira como escolhemos vivê-la diariamente.

Quem é Pedro Demo

Pedro Demo é um dos mais respeitados nomes do pensamento brasileiro. É graduado em Filosofia e Doutor em Sociologia, com pós-doutorados na Alemanha e Estados Unidos. É professor titular aposentado do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, instituição que lhe conferiu também o título de Professor Emérito. Pesquisa principalmente a questão da aprendizagem nas escolas públicas, por conta dos desafios da cidadania popular. No Ministério da Educação, foi Secretário-Geral Adjunto de 1979 a 1983 e Diretor Geral do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) de 1984 a 1985. Orientou ao longo de sua carreira 22 dissertações de mestrado, 9 teses de doutorado, 15 trabalhos de conclusão de curso de graduação e 11 de iniciação científica. Recebeu inúmeras homenagens nacionais e internacionais; é autor de mais de 100 artigos completos em periódicos; mais de 70 livros; dentre muitas outras contribuições.

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