Páscoa: Morte, Ressurreição e Libertação
Do Êxodo ao Novo Testamento
Inicialmente, a narrativa da Páscoa encontra suas raízes no Êxodo, quando o Senhor ordenou a Moisés que conduzisse o povo de Israel para fora do Egito. Assim, o patriarca Abraão, guiado pela fé, saiu de sua terra, conforme Gênesis 12.1, e chegou a Canaã, a terra prometida. Logo depois, por volta de 1876 a.C., Jacó e seus setenta familiares migraram para o Egito em busca de alimento, onde, entretanto, foram escravizados.
Portanto, ao longo de quatro séculos de aflição, a nação hebraica cresceu, até que Deus, em 1447 a.C., manifestou-se a Moisés no arbusto ardente, inaugurando o ciclo das Dez Pragas e preparando a libertação definitiva do jugo egípcio.
Em seguida, Deus transmitiu a Moisés quatro promessas essenciais, registradas em Êxodo 6.6‑7: livramento do labor, libertação da escravidão, resgate com braço estendido e adoção como povo de Deus. Entretanto, o Faraó resistiu, de modo que cada praga revelou a superioridade do Deus dos hebreus sobre os deuses do Egito.
Assim, a última e decisiva praga — a morte dos primogênitos — pôs em prática a páscoa judaica: o juízo descia sobre todos, exceto aqueles cujas portas estivessem marcadas com o sangue do cordeiro, como Deus instruiu. Dessa forma, o termo hebraico Pesach (“passar por cima”) deu origem à palavra “Páscoa”, eternizando a celebração da libertação nacional e espiritual.
A Morte do Cordeiro e a Nossa Morte
Todavia, além do contexto histórico, a Páscoa adquire significado cristão ao unir a morte de Jesus à experiência existencial do crente. De fato, a verdadeira Páscoa pressupõe duas mortes: a do Cordeiro divino e a morte simbólica de cada um que nele crê. Assim, ao contemplarmos o sacrifício de Cristo, não bastaria reconhecer sua morte alheia; é necessário morrer com Ele para viver em nova dimensão.
Portanto, se a cruz representou a derrota do pecado em Jesus, nossa comunhão com essa morte implica renunciar ao egoísmo, ao orgulho e ao “si‑mesmo” que escraviza a alma.
Ademais, Paulo insiste que, ao celebrarmos a Páscoa, devemos considerar-nos “mortos para o pecado e vivos para Deus” (Romanos 6.11). Contudo, sem a consciência de nossa união com Cristo na cruz, a Graça permanece incompleta.
Logo, a Páscoa existencial começa com um ato unilateral de Deus, mas avança por meio da fé que nos leva a praticar o perdão incessantemente — até setenta vezes sete — e a experimentar a misericórdia em todas as circunstâncias. Em suma, enquanto o ovo de chocolate simboliza festa sem cruz, a verdadeira celebração pascal engloba morte para o mundo e ressurreição em Cristo.
Os Quatro Cálices da Promessa
Por outro lado, segundo o Prof. Tassos Lycurgo, a última ceia de Jesus com seus discípulos revela a continuidade entre as quatro promessas do Êxodo e os quatro cálices pascais.
Primeiramente, o Evangelho de Lucas (22.17‑18) descreve o primeiro cálice: “Tomem isto e partilhem uns com os outros” — a realização perfeita da promessa de livramento do jugo (Êxodo 6.6a).
Em seguida, o segundo cálice, instituído após a partilha do pão, simboliza a nova aliança e a libertação da escravidão do pecado (Êxodo 6.6b e Lucas 22.20). Assim, Cristo, ao oferecer o vinho como seu sangue, inaugura a liberdade espiritual definitiva.
Em continuidade, o terceiro cálice refere-se ao resgate “com braço estendido e grandes manifestações de juízo” (Êxodo 6.6c). Nesse sentido, Jesus, no Getsêmani, orou em agonia para que, se possível, o cálice da paixão fosse afastado (Lucas 22.42), mas submeteu-se à vontade do Pai.
Logo depois, na cruz, com os braços estendidos nos próprios pregos, Ele pronunciou: “Tenho sede” (João 19.28), consumando o juízo e provando o vinagre — o vinho azedo que representa o cálice do sofrimento pelo pecado alheio.
O Quarto Cálice e as Bodas do Cordeiro
Subsequentemente, a quarta promessa — “Eu os farei meu povo e serei o Deus de vocês” (Êxodo 6.7a) — aguarda o cumprimento no futuro mês das Bodas do Cordeiro.
De fato, Jesus declarou que não voltaria a comer da Páscoa até a consumação do Reino de Deus (Lucas 22.16, 18). Igualmente, as profecias de Isaías (25.6‑9) vislumbram um banquete escatológico em que morte e luto serão extintos, e o Senhor será reconhecido como nosso Deus. Portanto, o quarto cálice será compartilhado por todos os redimidos quando Cristo retornar e estabelecer plenamente seu Reino.
A Páscoa Existencial: Morrer e Viver
Consequentemente, a Páscoa transcende datas e ritmos litúrgicos para tornar‑se experiência diária de morte e ressurreição. De fato, Paulo exorta a “fazer morrer” a nossa natureza terrena — composta de maldade, luxúria, inveja, ódio e maledicência — para que possamos viver em novidade de vida (Colossenses 3.5‑10).
Assim, cada dia é uma oportunidade de cooperar com o Espírito Santo, abrindo o ser à operação da Graça que nos cura por meio da aceitação do sacrifício de Cristo como nossa própria morte.
Entretanto, essa vivência implica rejeitar toda dependência das aparências, reputações e honrarias humanas. De certo modo, o discípulo de Cristo deve tornar‑se um “fantasma” para o mundo — invisível aos padrões mundanos —, mas plenamente livre para servir a Deus com alegria.
Nesse processo, a libertação do “Super‑Ego do Mundo” gera uma liberdade tão profunda que, mesmo sendo tratado como morto pelos homens, o crente experimenta a “grande liberdade de um morto”, pois já não está sujeito às cobranças e dívidas que o passado impõe.
A Vivência Diária da Páscoa
Igualmente, o convite pascal exige do crente uma postura de ação: perdoar sem cessar, amar sem restrições e testemunhar com alegria pela libertação recebida. De fato, não se trata de buscar catástrofes, mas de optar diariamente pela crucificação do “eu” em favor da novidade de vida em Cristo.
Assim, ao nos glorificarmos somente no Cordeiro, na Cruz e na vida que Ele concede, caminhamos segundo o Evangelho, libertos de dívidas — pois “o morto não tem mais obrigações” (Romanos 6.7) — e livres para proclamar a nova realidade.
Contudo, a simplicidade e a pureza do Evangelho pedem desapego de toda soberba, imodéstia e vaidade religiosa. Portanto, o primeiro sinal de quem realmente morreu com Jesus é a renúncia de toda importância humana que contrarie a verdade em Cristo.
Dessarte, o verdadeiro adorador vive para testemunhar a Graça, não por meio de palavras retocadas, mas pela evidência de uma vida transformada.
Conclusão: Nova Vida em Cristo
Finalmente, a celebração da Páscoa une a libertação histórica do Êxodo, o sacrifício do Cordeiro e o convite existencial à conformidade com Cristo na sua morte e ressurreição.
Ademais, os quatro cálices — primeiro, segundo, terceiro e quarto — revelam as etapas da promessa divina: do livramento do jugo ao banquete escatológico das Bodas do Cordeiro.
Por conseguinte, ao participarmos espiritualmente de cada cálice, somos convidados a viver diariamente a experiência pascal: morrer para o pecado, renascer em santidade e aguardar com esperança o cumprimento pleno do Reino de Deus.
Assim, cada dia pode ser uma nova Páscoa, pois “acolher a morte de Cristo” significa habitar na liberdade que brota da cruz, provar antecipadamente a ressurreição e testemunhar ao mundo que a verdadeira vida não está no incessante desejo de viver, mas na certeza de que, morrendo para nós mesmos, vivemos plenamente em Jesus.
Que, nesta Páscoa e em todas as que virão, possamos experimentar a alegria de servirmos ao Senhor com gratidão, consciência renovada e fé pura, até o dia em que, juntos, celebraremos o quarto cálice no banquete eterno do Reino vindouro.
Por Carla Ribeiro Testa
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